Álvaro Laborinho Lúcio na Universidade Invisível de 2018 – Teatro e Justiça
Recorde a palestra performativa de Álvaro Laborinho Lúcio na Universidade Invisível de 2018, uma iniciativa das Comédias do Minho. Laborinho Lúcio parte do monólogo de Anton Tchekhov, «Os Malefícios do Tabaco», para desenhar uma linha paralela entre a evolução do Teatro e da Justiça. Desenvolve-se uma reflexão ironicamente crítica sobre o nosso tempo, no qual se confrontam o pragmático e o utópico, a ação sem pensamento e a busca criativa do futuro.
PALESTRA PERFORMATIVA
Partindo do texto do monólogo de Anton Tchekhov, «Os Malefícios do Tabaco», desenha‑se uma linha paralela entre a evolução do Teatro e da Justiça. Desenvolve‑se uma reflexão ironicamente crítica sobre o nosso tempo, na qual se confrontam o pragmático e o utópico, a ação sem pensamento e a busca criativa do futuro. «Julgar uma pessoa não passa apenas por apreciar um ato, mas também por penetrar num encadeamento de eventos inextricáveis e imputar um deles a uma história em particular… Julgar é um distanciamento permanente, um trabalho iniciado pelo símbolo e concluído pelo discurso. Uma vez terminados os debates, o juiz não fica completamente livre desse trabalho de distanciamento. O rito não é apenas uma bola de ferro presa à perna do juiz, é também um meio de este último se emancipar de si mesmo. É disso testemunha a ritualização da deliberação, ou até a própria decisão».
Transformássemo‑nos nós, à maneira de Pirandello, em personagens à procura de um autor, e poucos chegaríamos a identificar em Antoine Garapon a autoria de texto que antecede, de tal maneira ele nos convida a remetê‑lo para o pensamento de Bertolt Brecht e para a consideração do seu tão decantado Verfremdungseffekt, ou efeito de distanciação ou estranhamento. E, todavia, é do primeiro que se trata. Ele também «Gents de Justice», como diria Daumier, falando, porém, como se de Teatro fosse, e interpelando‑nos, ainda ele, a pesquisar em busca do segredo que ata o Teatro e a Justiça num laço que o tempo e a História jamais lograram desatar. Tempo, esse, para o qual nos proporemos aqui olhar de longe.
Álvaro Laborinho Lúcio
Magistrado de carreira, é Juiz Jubilado do Supremo Tribunal de Justiça. De 1980 a 1996, exerceu, sucessivamente, as funções de Diretor do Centro de Estudos Judiciários, Secretário de Estado da Administração Judiciária, Ministro da Justiça e Deputado à Assembleia da República. Entre 2003 e 2006, ocupou o cargo de Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores. Com intensa atividade cívica, é membro dirigente, entre outras, de associações como a APAV e a CRESCER‑SER, de que é sócio fundador. Com artigos publicados e inúmeras palestras proferidas, é autor de livros como A Justiça e os Justos (1999), Palácio da Justiça (2007), Educação, Arte e Cidadania» (2008), O Julgamento – Uma Narrativa Crítica da Justiça (2012), Levante‑se o Véu, este em coautoria(2011), e ainda os romances O Chamador (2014), O Homem Que Escrevia Azulejos (2016) e O Beco da Liberdade (2019).