A
janela pode por estes dias, para muitos, funcionar como uma espécie de quadro ou de tela de cinema. O filme que aqui passa não será, provavelmente, um filme de ação. Talvez se assemelhe àqueles filmes para serem vistos como uma pintura, como dizia Manoel de Oliveira sobre o cinema que fazia.
Para uns, representará momentos de contemplação e de atenção. Uma atenção, com o corpo todo, às pequenas coisas,
aos pequenos nadas, às mudanças, mesmo que quase invisíveis. Porque tudo está em mudança.
Para outros, a janela hoje é apenas um enorme aborrecimento onde nada parece acontecer.
O compositor John Cage propôs-nos um dia – “Se uma coisa te parecer aborrecida durante dois minutos, tenta quatro. Se ainda for aborrecida, tenta oito. Depois dezasseis. Depois trinta e dois. Eventualmente, descobrirás que não é nada aborrecida.”
Olhar. Ver. Compreender. Trazer para dentro.
Ver com olhos de ver. Ver outra vez. Ver com o corpo todo.
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Magda Henriques