UNIVERSIDADE
INVISÍVEL
8 DEZ
CASA DA CULTURA
MELGAÇO
10h00 – 12h30
Encontro + Conversa
VOZ, LEALDADE E DESERÇÃO: COMO SE RESOLVE A INQUIETAÇÃO
10h00 – 22h30
FEIRA DO LIVRO TEMÁTICA
15h00
Espetáculo + Conversa
BALEIZÃO, O VALOR DA MEMÓRIA
16h30
Filme + Conversas de Porta Aberta
21h00
Espetáculo + Conversa
O DIREITO A UMA CASA E O SORRISO NAS FOTOGRAFIAS
A Universidade Invisível ocupa, um Sábado, um município, de cada vez.
Aqui aprende-se através de aproximações diversas e valoriza-se o encontro individual com a arte e com o conhecimento. Também aqui nem sempre somos capazes de aferir no imediato o que aprendemos ou a importância do que aprendemos. As sementes germinam na invisibilidade. Tomamos a imagem da colmeia. Move-nos a necessidade de reforçar o alcance do processo de polinização que, tão ou mais importante que a produção de mel (produção esta visível e quantificável), é difícil ou até impossível de medir sendo, no entanto, determinante para o equilíbrio e sobrevivência da natureza, da sobrevivência humana.
Acreditamos, pois, que a experiência da arte, e das múltiplas formas de conhecimento, age ao nível mais íntimo de cada um e, tal como no processo de polinização, em tempos e de modos imprevisíveis, mas imprescindíveis à construção, consolidação e manutenção dos valores humanos. Tal como a polinização não impede as catástrofes naturais, também a arte e o conhecimento não impedem a barbárie humana, mas sem a polinização e sem a arte e o conhecimento o mundo seria certamente um lugar pior.
Orienta-nos ainda a afirmação do escultor Rui Chafes: “Não sei o que a arte pode mas sei o que deve. A arte deve manter as perguntas acesas.”
Muito desejamos que este seja um lugar de perguntas acesas.
Este ano andaremos em torno da ideia de justiça.
As aproximações ao tema fazem-se, umas vezes de forma mais concreta e outras de forma mais abstrata, através de abordagens teóricas (encontros e conversas), de espetáculos, filmes e livros. As opções são várias para que cada um, em função dos seus interesses, formações, idade e até disponibilidade de tempo, possa escolher.
Este é um dos momentos em que o território acolhe também espetáculos exteriores às Comédias do Minho.
8 DEZ | MELGAÇO | CASA DA CULTURA
10:00 – 12:30 | Encontro + Conversa | VOZ, LEALDADE E DESERÇÃO: COMO SE RESOLVE A INQUIETAÇÃO
Um grande economista teorizou um dia que, perante problemas difíceis, que exigem a tomada de uma atitude, há três possibilidades: exit, voice and loyalty. No entanto, as sociedades nem sempre conferem o direito à voz, exigem frequentemente lealdades e empurram muitos para a saída. Menos dilemáticas seriam as escolhas se prevalecessem ideias de justiça e formas de governo pela discussão, mais do que poderes que excluem. Já se pensou que podíamos dispor de mecanismos poderosos de inclusão social que capacitassem as pessoas e qualificassem as sociedades. Mas, hoje como ontem, os excluídos encontram-se nas praças e a vida coletiva está fraturada em muitos pontos onde a julgávamos sólida. Usar a voz e dizer o nome, fixar os rostos e reconstruir os cenários ocupados pelo que assombra é, como sempre foi, uma urgência.
COM José Reis
José Reis é Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Investigador do Centro de Estudos Sociais. Foi Secretário de Estado do Ensino Superior, Presidente da Comissão de Coordenação da Região Centro e Diretor da FEUC. É doutorado em Economia. Os seus temas de investigação e de escrita são predominantemente três: território, economia institucionalista e economia portuguesa e europeia. Coordena o Programa de Doutoramento em Governação, Conhecimento e Inovação.
10:00 – 22:30 | FEIRA DO LIVRO TEMÁTICA
Numa parceria com a livraria Centésima Página, acontece uma feira do livro que dará especial atenção ao tema de cada encontro.
A literatura infantil está presente em todas as sessões.
15:00 | Espetáculo | BALEIZÃO, O VALOR DA MEMÓRIA + CONVERSA
CONCEÇÃO E DIREÇÃO Aldara Bizarro
INTERPRETAÇÃO E COCRIAÇÃO Miguel Horta e Aldara Bizarro
PÚBLICO-ALVO | a partir dos 8 anos
“Não me lembro quando é que se instalou a cotação do Baleizão lá em casa mas lembro-me muito bem da minha Mãe utilizar o Baleizão sempre que eu queria uma coisa que os meus pais não tinham possibilidade de comprar. Dizia-me assim: Sabes, isso não posso comprar porque custa muitos Baleizões. Às vezes, quando eu insistia, dizia-me a quantidade, 5, 10, 20, ou 30, conforme os casos. O Baleizão, que a minha mãe utilizava para cotar o valor das coisas impossíveis, era um gelado, de uma cervejaria com o mesmo nome, da cidade onde eu vivia, Luanda, em Angola. Custava 2$50!”
Esta é a carta que dá início ao exercício de memória e de celebração da vida, entre dois amigos, realizada através da troca de cartas, textos, desenhos e fotografias sobre as suas infâncias, vividas em países diferentes, na década de 70.
16:30 – Filme + Conversas de Porta Aberta
De portas abertas a todos os que queiram juntar-se, assistimos a um filme, escolhido pelo convidado do encontro, e conversamos sobre o que vimos e sobre o que pensamos sobre o tema. As únicas condições de acesso são: o gosto por ver filmes e a vontade de conversar…
21:00 | Espetáculo | O DIREITO A UMA CASA E O SORRISO NAS FOTOGRAFIAS + CONVERSA
DIREÇÃO, TEXTO E PERFORMANCE Joana Craveiro
Constata-se que em todas as fotografias, eles sorriam. Latas na mão, inventavam batuques nas manifestações pelo direito a uma casa e não a uma barraca, pelo direito ao lugar, e empunhavam orgulhosos cartazes que o afirmavam. A Câmara Municipal via-se transformada em espaço de reivindicação, as ruas eram deles, e os bairros camarários já não eram uma opção. Era Portugal, 1974-76, e isto devia ser tão importante, ou tão ameaçador, que um dos coordenadores da Operação SAAL/Norte é alvo de um atentado à bomba. A festa foi bonita mas durou pouco tempo, o tempo de fazer, por exemplo, 40 casas em vez das 400 necessárias. Mas, ainda assim, quando falam nisso, eles sorriem. Como nas fotografias daquela altura. E uma mulher que viveu tudo isto com seis anos, lembra-se ainda hoje de entrar pela primeira vez naquela que iria ser a sua casa e de pensar que aquilo parecia um palácio, de tão grande.
Esta palestra performativa parte de histórias de vida de alguns dos moradores dos bairros SAAL no Porto, bem como das memórias de alguns dos arquitetos e técnicos das brigadas. Com recurso a testemunhos, documentos originais de arquivo, fotografias, este é mais um item do “Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas”, que tem vindo a ser construído pelo Teatro do Vestido, referente à história recente de Portugal.